segunda-feira, 8 de novembro de 2010
Bom senso e senso comum no dia-a-dia
No condomínio onde resido não há porteiro. Quando nele adentro, não fico aguardando o portão fechar, colado a ele, tal qual fazem os demais moradores. Por quê? Porque entendo que, se surge um bandido, ele me renderia de imediato. Então, o que faço? Percorro um trecho de uns doze metros, sem descolar o olho do retrovisor, a cuidar se, nesse ínterim, algum elemento adentrou no edifício aproveitando-se do portão aberto. Nesse movimento, caso surja lá atrás um elemento potencialmente ameaçador, eu tenho uma distância de doze metros para tentar escapar, pedir socorro, alertar os vizinhos com buzinadas loucas, ou mesmo me entregar; de toda e qualquer forma, esses doze metros, só por me oferecerem tais possibilidades já constituem alguma vantagem... Além disso, agindo assim, economizo meu valioso tempo: quando o portão está se fechando eu já estou praticamente encaixado com o carro diante de minha vaga; mais duas manobras e... finish! Desse meu proceder, porém, surge uma questão. E às vezes ponho-me a pensar: será que meus vizinhos, que não pensam como eu, me compreendem? Será que ao verem meu peculiar hábito, entendem que ele consiste num ritual racional e cuidadosamente estudado? Penso que não, porque senão imitar-me-iam! Então concluo que eles devem me julgar displicente; devem pensar: ‘‘ele sequer aguarda o portão fechar!”. A minha prudência e bom senso, potencialmente capazes de beneficiar a todos os meus vizinhos, por serem incompreendidos, então, me ocasionam malefícios a mim, seu responsável e virtuoso autor! O exemplo da garagem é ilustrativo. O povo vive no não-saber, vive num padrão de ação-pensamento irrefletido. Àqueles que escapam de seu modo de ser, viver e pensar, mesmo que o façam por boas e justificadas razões, são geralmente incompreendidos, julgados e condenados. É por isso que para se dar bem nas relações inter-pessoais, muitas vezes, a razão e o bom-senso são um entrave.
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