domingo, 2 de maio de 2010
Fusão homem-mundo: a redenção
A pureza irrefletida e não mediada com que os bebês se relacionam com todos os objetos de sua experiência imediata e atual revelam o caráter efetivamente ontológico da fusão homem-mundo protagonizada pelo simples existir-junto. O que é existir-junto? Existir-junto é o que é. Em outras palavras: existir-junto é condição sine qua nom da não alienação. E alienar-se é não fundir-se orgasticamente com o que se impõem diante dos sentidos. O eu requer o distanciamento mediato: o eu está necessariamente alienado do mundo – e de sua própria essência. Tal alienação, por sua vez, tem suas causas. Em primeiro lugar, a previdência requer que se estabeleça uma primeira perversão da essência humana: o estabelecimento da reflexão. É preciso pensar para previr e prover, na luta contra as intempéries da natureza. Posteriormente, um segundo artifício muito útil para fixar os já corrompidos na existência é gerado: trata-se do advento da linguagem – conseqüência e segundo degrau de ascensão espiritual pós-reflexão. Assim, dotado de reflexão e possuidor de linguagem, o ser humano está instrumentalizado para protagonizar o advento da cultura. Nesse novo cenário, os bebês são logo ensinados e, assim, corrompidos pelos padrões existenciais dos adultos aculturados. Todo esse mecanismo resulta em um desvio pulsional que contradiz o telos celular dos indivíduos. É por isso que um verdadeiro humanista só poderia lutar por uma causa impossível: fazer com que a humanidade retroceda ao período pré-histórico. A eventual realização desse ideal (utópico?), além de prometer a satisfação pulsional dos indivíduos que se entregarão livremente aos instintos, numa fusão orgástica e estética com o mundo, também terá a virtude de livrar a humanidade de uma possível extinção causada por fatores antropogênicos. Isso porque em um mundo natural, povoado por afásicos animalescos, não existirá ciência: a mãe da tecnologia que permite destruir a fauna e a flora do planeta em ritmo vertiginoso.
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