É fácil perceber que todo aquele que obtém êxito nas áreas canonizadas de um suposto conhecimento só pode ser um espírito de segunda categoria. Pois, primeiramente, seria necessária uma submissão metafísica para seu empreendimento ter sucesso, e isto por si só já evidência um acomodamento diante de algum postulado ou axioma fértil e conveniente. Além disso, tal espírito que se lança a um empreendimento destes deve percebê-lo como uma virtude: racionalmente inferior a um cético, e espiritualmente menor que um poeta, não vê que sua empresa é vã e absurda... Não sendo um veterano do non-sense, o cientista e o filósofo - salvo raríssimas exceções -, acreditam avançar, através de sua obra, arrastando consigo toda humanidade, rumo a um (semi)Absoluto positivizado: a virtude da esterilidade não é seu forte... (Como criar um energúmeno? Resposta: dê-lhe um método pré-estabelecido e uma direção falsificada!) Todavia, suponhamos que tal homem saiba de sua condição de fantoche acadêmico e que, no entanto, continue prestando sua contribuição ao desfile geral dos saltimbancos do logos apenas por conveniência: isso, sem dúvida, lhe daria algum prestígio diante de nós - os desacreditados; porém, este ser não merece os louros de nosso brasão: ele ainda produz! Tal espírito, já nos primórdios de sua formação, não possuiu a potência de se elevar acima dos propagadores da fachada universal, ele se adornou dos falsos artifícios propostos por eles... Aliás, tal lástima é verificável em hippies, engenheiros, etc. Mais especificamente: em todo lugar onde alguém assuma uma posição determinada. Tal ser não teve o dom ou a competência de tirar as últimas conseqüências daquilo que, certamente, manifestava-se nele como uma leve desconfiança ou intuição que, como sabemos, caso levada a sério, faria com que ele se libertasse de todo empreendimento de patamar teórico e de toda espécie de tentativa de explicar o real. Seja pela superstição ou pela matemática, um posicionamento qualquer deriva de uma subordinação frívola! Tal ser teria, caso sua potência não fosse de segunda grandeza e recalcada, deixado de lado tais especulações e, seguindo o exemplo do protagonista de Cândido, tornar-se-ia jardineiro - ou um agricultor rudimentar...
Meus heróis fugiram do ginásio! A prudência recomendada pelos seus arautos pais, mestres e professores recebeu o desprezo que, de fato, mereciam... Eles não se curvaram perante a injustificabilíssima “necessidade”... Sua potência era sadia, sua desconfiança imperscrutável, tiraram as últimas conseqüências e se não são livres no campo de suas ações, se não dão livre curso à grande intensidade de seu pulsar é porque a polícia e o tribunal os impedem.... Sim, sofremos com isso! E se não podemos dar vazão a nossas epifanias estomacais, somos, ao menos, livres no campo das idéias: jamais fomos reféns de postulados e axiomas, fizemos do Absurdo nossa morada e nos acostumamos a habitar o Impossível.... Estamos acima da humanidade e ela não nos perdoará por isso!
Morremos de rir ao adentrar numa sala de aula, ao ver tantas vidas desperdiçadas ante um quadro negro. Eu, particularmente, gosto de assistir a palestras ministradas por doutos homens de Letras: suas aporias me fazem cócegas! É comum eu rir da cara deles; e também é comum eles se sentirem nus na minha presença... Mas seu charlatanismo é perspicaz e eles têm todo um rebanho em que se apoiar... Raras vezes eu consegui desconsertar um palestrante a ponto de ele não conseguir dar seqüência a seu sofismo. Nessas raras vezes, confesso ter me sentido um pouquinho mal - pensava: “pobre homem, precisa ganhar a vida... está trabalhando!”. Porém, este pensamento durava poucos minutos e eu era obrigado a rir novamente. A verdade é que não consigo ter um legítimo respeito por um homem que se presta a este tipo de empreendimento...
sábado, 1 de maio de 2010
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