Todo prazer depende de um sofrimento prévio, assim como a sombra depende da luz. O sofrimento é o a priori do prazer! Acontece, no fumo, que, quando sopramos a fumaça, o prazer que nos advém é decorrente do seguinte: nosso organismo agoniza com as toxinas do tabaco e quando a exalamos de dentro de nós sentimo-nos aliviados. E o mesmo se passa com tudo: na academia, sentimos bem estar depois de muito sacrifício; na escola, após árduos exercícios de fixação da informação, sentimo-nos contentes em ver que, finalmente, assimilamos um determinado conteúdo; e a própria fome é, desde Epicuro, considerada o melhor tempero da comida.
Existe uma balança que pesa as coisas: depois de ralar carregando pedras debaixo do sol durante horas a fio, sentimo-nos felicíssimos com um simples copo de água. É mesmo compreensível por que o dinheiro não traz a felicidade: só a obtemos em pequenas doses e sempre, irremediavelmente, depois de um sofrimento prévio. As doses de bem-estar e de prazer intercalam-se com nossos incômodos e desprazeres: é como se o ser sofresse da patologia de ser bipolar. Oscilando entre a alegria e a tristeza, entre o prazer e a dor haveria um equilíbrio, uma espécie de meio-termo como aquele idealizado por Aristóteles? Isso parece ser pouco provável e efetivamente difícil de ser alcançado. Afinal, a maioria dos homens, por falta de gana ou devido a contingências, se entregam à desmesura: seja essa o excesso ou a falta. Seria preciso sonhar com um mestre da ponderação, um ser idealmente virtuoso para concebermos um meio-termo e equilíbrio tão perfeitos que capazes de condecorar o seu protagonista com um emblema de cidadão feliz - título inédito na História.
sábado, 1 de maio de 2010
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