sábado, 1 de maio de 2010

A plebe e o poder

Todo ser nobre de espírito que trava convívio com a sociedade está irremediavelmente condenado à degradação. “Ninguém pode ser feliz”: esta é uma afirmação categórica subliminar e irrefutável latente na sociedade, é uma regra universal que não pode ser quebrada no contexto social contemporâneo, a não ser por um preço altíssimo.
Existe uma inveja que envenena e clama por vingança... ela traça, com auxílio da prudência, ferramenta crucial a todo ser impotente, mil artifícios e dissimulações para degenerar a vitalidade de todo ser superior que atreve-se, geralmente por ingenuidade, a ser feliz. Os escravos do demônio mataram os filhos de deus. Predominam os tipos plebeus, ressentidos e infelizes que, impotentes, necessitam de um pacto coletivo - pacto esse que caracteriza as normas da sociedade e confunde-se com o próprio contratualismo - para existirem e proliferarem sua anemia em todos os espíritos.
O cristianismo, essa escola de valores plebeus, grita em alto e bom som: “só se será feliz em outra vida!”.
O homem afortunado, bem dotado e feliz que se atrever a demonstrar sua superioridade frente à mendicância espiritual coletiva será reprimido drasticamente: a moral escrava implantará - ou já implantou - nele mecanismos de repressão tão severos que chegam ao patamar da fisiologia... O superego é o castigador fisiológico do nobre, do superior, do belo... Ora, todo fraco necessita de artifícios extras para competir com o forte..., a moral que predomina atualmente, escrava, plebéia e hipócrita que é, forjou valores que garantissem uma vingança suja contra tudo aquilo que era bom, nobre, honrado, belo e feliz... dessa forma vingaram-se da criatura, mas sua projeção sempre foi o Criador: foi Ele, ou o Acaso, quem fabricou a beleza e a força opondo-as à fraqueza e à feiúra.
Assim, o homem fraco e feio, ressentido pelo Acaso/Criador tê-lo colocado no mundo para testemunhar a boa sorte alheia, resolve vingar-se da Vida, da qual se considera, não sem razão, vítima... Cria, então, mecanismos para efetivar tal vingança: os indigentes pariram, desta forma, a moral cristã... Essa era útil a eles: “os últimos serão os primeiros”, “o sofredor será recompensado”... A compaixão foi assim transformada numa virtude... Mas, compaixão para com quem? Ora, para com os inferiores. Assim, em vez de serem subjugados e desprezados, os infelizes são agora venerados... coitadinhos...
O homem belo, superior, agraciado pelo Acaso ou por Deus, tem agora uma dívida para com o desafortunado: eis a grande conquista do rebanho! Isto é um fato que se encontra na raiz da ética e da moral contemporâneas... qualquer desvio e infração a este princípio corrupto é violentamente censurado..., tal censura pode ser externa, partindo da sociedade, ou interna, partindo do superego... Nesse contexto a modéstia e a humildade são consideradas virtudes e, assim, todo ser casualmente afortunado, dotado de vitalidade, beleza e, numa palavra, de superioridade, é considerado culpado tanto pela coletividade, caso a demonstre, quanto por si mesmo, caso a sinta e tenha um superego normal... Eis o triunfo dos plebeus: o nobre está impossibilitado de exercer seus dotes!
A rejeição, mesmo ingênua, a este tipo de princípio ético, é tão reprimida que degenera o corpo, a mente e, em suma, o espírito de todo aquele que a pratique (mesmo em pensamento). Aquele que materializa a rejeição a essa imposição plebéia, aquele que nega a pobreza axiomática do espírito, evidencia um desvio comportamental tão louvável quanto inadmissível: por não se enquadrar no sistema da plebe será apartado do convívio social: sanatório, prisão e cemitério: eis o destino dos nobres...

Um comentário:

  1. De fato, da perspectiva nietzscheana, qualquer conduta sadia está fadada à condenação coletiva. Todo aquele que se esquiva das supostas "virtudes" (humildade, compaixão, etc...) é apedrejado.

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